A Importância de Conhecer Basileia e IFRS 9 na Cobrança: Resultados Além do Valor Recuperado
A cobrança no setor financeiro é muito mais do que simplesmente recuperar valores em aberto. Cada ação tomada impacta diretamente o compliance regulatório, a saúde financeira e os indicadores estratégicos das instituições financeiras. Para que os prestadores de serviços de cobrança apoiem efetivamente os credores, é essencial compreender os pilares regulatórios que influenciam o setor: Basileia e IFRS 9. Essas normas surgiram em resposta a crises financeiras globais, trazendo lições valiosas sobre a importância da gestão de riscos e da transparência contábil. Compreender esse contexto permite que os prestadores de cobrança apoiem os credores na obtenção de resultados sustentáveis que vão além do caixa imediato.
REGULATÓRIO
Nádia Lanny Lopes
11/21/20249 min ler


A História da Basileia: Como Tudo Começou
Basileia é um conjunto de normas estabelecidas pelo Comitê de Supervisão Bancária de Basileia (BCBS), criado em 1974 sob a égide do Banco de Compensações Internacionais (BIS). Sua origem está profundamente conectada à instabilidade financeira global da década de 1970, marcada por eventos como:
Colapso do Herstatt Bank (1974): Um banco alemão que quebrou devido a operações cambiais mal geridas, causando um efeito dominó em instituições financeiras de outros países.
Crescimento da Interconexão Financeira Internacional: A globalização das operações bancárias trouxe a necessidade de padrões mínimos para evitar que a falência de um banco afetasse o sistema financeiro global.
O Comitê de Basileia foi criado por autoridades bancárias do G10 com o objetivo de promover a estabilidade financeira global e harmonizar as práticas regulatórias entre diferentes países.
Evolução de Basileia
Basileia I (1988): Introduziu requisitos mínimos de capital, exigindo que os bancos mantivessem pelo menos 8% de seus ativos ponderados pelo risco (**RWA - Risk-Weighted Assets**). O objetivo era garantir que os bancos tivessem capital suficiente para absorver perdas inesperadas.
Basileia II (2004): Ampliou o foco ao incluir três pilares: requisitos mínimos de capital, supervisão regulatória e disciplina de mercado. Trouxe maior ênfase na gestão de risco e na transparência.
Basileia III (2010): Desenvolvida após a crise financeira de 2008, essa fase introduziu normas mais rigorosas, como capital adicional para riscos sistêmicos, alavancagem máxima e novos índices de liquidez. O objetivo era tornar o sistema financeiro mais resiliente a choques.
O Que é IFRS 9 e Sua Relevância
O IFRS 9 (International Financial Reporting Standard 9), em vigor desde 2018, é uma norma contábil internacional que define como as instituições financeiras devem reconhecer e provisionar perdas esperadas em seus ativos financeiros. Diferentemente das regras anteriores (IAS 39), que eram reativas, o IFRS 9 introduziu uma abordagem proativa, exigindo que perdas potenciais sejam reconhecidas antes de se concretizarem.
Por Que o IFRS 9 Importa para a Cobrança?
A norma classifica os ativos financeiros em três estágios:
Estágio 1: Ativos saudáveis, com provisões mínimas.
Estágio 2: Ativos cujo risco aumentou significativamente, exigindo provisões maiores.
Estágio 3: Ativos inadimplentes, com provisões completas.
As ações de cobrança têm impacto direto nesses estágios. Um trabalho eficaz pode evitar que créditos avancem para os estágios 2 ou 3, reduzindo custos contábeis para os credores e contribuindo para a sustentabilidade financeira.
Por Que o Valor Recuperado Não É Tudo?
Historicamente, a eficácia da cobrança era avaliada apenas pelo montante recuperado. No cenário atual, esse enfoque não é mais suficiente. Concentrar-se exclusivamente no caixa imediato pode prejudicar os resultados financeiros de longo prazo e a relação com o cliente final.
Resultados Além do Caixa
Redução de Provisões (IFRS 9): Evitar que créditos avancem para estágios mais críticos diminui o impacto no balanço financeiro dos credores.
Alívio no Capital Regulatório (Basileia): Reduzir a inadimplência significa menor necessidade de capital reservado para riscos, permitindo que os credores invistam em outras áreas estratégicas.
Preservação da Relação com o Cliente: Cobrar com empatia e propor soluções sustentáveis melhora a retenção e a reputação da instituição no mercado.
Fortalecimento da Gestão de Riscos: A cobrança estratégica contribui para indicadores como índice de cobertura de crédito e recuperação de ativos não produtivos (NPLs).
O Contexto Brasileiro
No Brasil, a aplicação das normas internacionais como Basileia e IFRS 9 é adaptada ao ambiente regulatório local, coordenado principalmente pelo Banco Central do Brasil (BACEN) e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Com um sistema financeiro robusto e complexo, o país tem particularidades que influenciam a forma como essas normas impactam as instituições financeiras e os prestadores de serviços de cobrança.
Adaptação das Normas Internacionais
Basileia no Brasil: O BACEN adota as diretrizes de Basileia através de regulamentações próprias, como as Resoluções CMN nº 4.193/2013 e nº 4.557/2017, que tratam da estrutura de gerenciamento de riscos e do capital das instituições financeiras. Essas normas estabelecem requerimentos de capital que visam assegurar a solidez e a estabilidade do sistema financeiro nacional.
IFRS 9 no Brasil (CPC 48): O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) emitiu o CPC 48, equivalente ao IFRS 9, que foi homologado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo BACEN. As instituições financeiras brasileiras devem seguir essas normas ao elaborar suas demonstrações financeiras, incluindo a classificação e mensuração de ativos financeiros e o cálculo de perdas esperadas.
Particularidades do Mercado Brasileiro
Altos Índices de Inadimplência: O Brasil historicamente apresenta índices de inadimplência mais elevados em comparação com países desenvolvidos, o que aumenta a relevância da gestão eficaz de cobranças e recuperação de crédito.
Diversidade de Produtos Financeiros: A ampla gama de produtos financeiros oferecidos no mercado brasileiro, desde crédito consignado até fintechs de empréstimo peer-to-peer, exige abordagens personalizadas na cobrança.
Regulamentação Estrita de Proteção ao Consumidor: Leis como o Código de Defesa do Consumidor (CDC) e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) impõem obrigações adicionais às instituições financeiras e aos prestadores de cobrança, especialmente no que diz respeito à transparência e ao tratamento de dados pessoais.
O Papel do Banco Central do Brasil
O BACEN desempenha um papel crucial na supervisão e regulamentação das instituições financeiras, assegurando que práticas de gerenciamento de risco e de capital estejam alinhadas com os padrões internacionais adaptados à realidade nacional. Além disso, o BACEN promove iniciativas para aumentar a inclusão financeira e a educação financeira no país, objetivos que podem ser potencializados por práticas eficazes de cobrança.
Desafios e Oportunidades
Implementação Completa das Normas: Algumas instituições ainda enfrentam desafios na implementação completa das normas de Basileia III e IFRS 9, especialmente instituições de menor porte ou aquelas com sistemas legados complexos.
Inovação Tecnológica: O mercado brasileiro tem visto um crescimento significativo em fintechs e soluções digitais, o que abre oportunidades para a modernização dos processos de cobrança, tornando-os mais eficientes e alinhados com as expectativas dos clientes.
Educação Financeira: Há uma crescente necessidade de promover a educação financeira entre os consumidores brasileiros, o que pode reduzir a inadimplência e melhorar a eficácia das ações de cobrança.
Como Prestadores de Cobrança Podem Apoiar os Credores?
Os prestadores de serviços de cobrança desempenham um papel essencial para as instituições financeiras, indo além de serem meros executores de recuperação de crédito. Eles podem contribuir para o cumprimento de metas estratégicas e regulatórias, posicionando-se como parceiros indispensáveis. Para isso, é fundamental que adotem práticas inovadoras, técnicas avançadas e estratégias baseadas em dados.
1. Compreender o Contexto Regulatório e os Objetivos do Credor
É crucial que os prestadores de cobrança entendam como as normas regulatórias, como Basileia e IFRS 9, impactam diretamente os resultados financeiros do credor, especialmente dentro do contexto brasileiro. Isso inclui:
Efeito da inadimplência no capital regulatório e nos índices de provisão.
Alinhamento das estratégias aos KPIs específicos do contratante, como: (i) Redução do saldo devedor em estágio crítico (Estágio 3), (ii) Minimização da migração de créditos para estágios mais severos, e (iii) Proteção da rentabilidade do portfólio.
2. Priorizar a Recuperação Sustentável
Estratégias de cobrança que priorizam a recuperação sustentável geram benefícios de longo prazo tanto para os credores quanto para os clientes finais. Isso inclui:
Renegociações Personalizadas: Oferecer opções de pagamento adaptadas às condições financeiras do cliente, respeitando as diretrizes do CDC.
Educação Financeira: Instruir os clientes sobre a importância de manter suas finanças em ordem para evitar o ciclo de inadimplência, alinhando-se às iniciativas do BACEN.
3. Alavancar Tecnologia e Análise de Dados
O uso de ferramentas de big data, inteligência artificial e fintechs é um diferencial competitivo no mercado brasileiro. Por meio da análise preditiva, é possível:
Identificar clientes com maior probabilidade de recuperação.
Definir abordagens personalizadas para maximizar os resultados.
Antecipar comportamentos de risco e agir proativamente.
4. Melhorar a Experiência do Cliente
Uma cobrança empática e baseada no respeito melhora a percepção do cliente sobre a instituição, mesmo em momentos difíceis. No contexto brasileiro, isso é ainda mais relevante devido à legislação de proteção ao consumidor.
Comunicação Clara e Acessível: Utilizar linguagem simples e canais adequados, incluindo WhatsApp e outros meios digitais populares no Brasil.
Resolução Rápida de Disputas: Demonstrar agilidade e interesse genuíno em resolver problemas, evitando reclamações em órgãos como o PROCON e sites como Reclame Aqui.
Propostas de Pagamento Flexíveis: Oferecer alternativas que preservem o relacionamento e a reputação da empresa.
5. Capacitar a Equipe para o Papel Estratégico
As equipes de cobrança precisam estar bem treinadas não apenas em técnicas de negociação, mas também nas implicações das normas regulatórias e culturais do Brasil.
Formação em Legislação Local: Entendimento aprofundado do CDC e da LGPD.
Sensibilidade Cultural: Compreender as particularidades regionais e socioeconômicas dos clientes.
Venda de NPL: Um Caminho Estratégico para Reduzir Riscos e Provisões
Quando a recuperação de certos créditos se torna inviável ou antieconômica, muitos credores no Brasil optam pela venda de NPLs (Non-Performing Loans) como alternativa. Essa prática, além de liberar recursos para focar em outras operações, reduz o impacto no balanço financeiro e permite que o credor cumpra mais facilmente os requisitos de Basileia e IFRS 9 adaptados ao contexto brasileiro.
O Que São NPLs?
NPLs são créditos considerados inadimplentes ou não produtivos, geralmente aqueles em estágio avançado (Estágio 3) no IFRS 9. No Brasil, esses ativos representam um peso significativo para os credores, devido aos altos níveis de inadimplência e às exigências regulatórias de provisão.
Benefícios da Venda de NPLs
Redução do Impacto no Capital Regulatório: A transferência de ativos inadimplentes permite que o credor alivie a necessidade de manter capital reservado, melhorando índices de alavancagem e liquidez.
Melhora na Qualidade do Balanço: Ao vender NPLs, os credores reduzem o risco de crédito em seus balanços, melhorando indicadores financeiros e liberando recursos.
Foco em Ativos Estratégicos: Permite que as instituições concentrem esforços em operações com maior potencial de retorno.
Cumprimento Regulatório: Facilita o atendimento aos requisitos do BACEN relacionados à gestão de risco e capital.
Desafios da Venda de NPLs no Brasil
Mercado Ainda em Desenvolvimento: Embora crescente, o mercado secundário de NPLs no Brasil ainda não é tão maduro quanto em países desenvolvidos.
Complexidade Jurídica: A transferência de créditos exige atenção às leis brasileiras, incluindo questões de cessão de crédito e direitos do consumidor.
Precificação Adequada: Determinar o valor justo dos créditos inadimplentes pode ser desafiador devido à volatilidade econômica.
O Papel dos Prestadores na Venda de NPLs
Os prestadores de cobrança podem desempenhar um papel estratégico nesse processo, ajudando os credores a:
Segregar Carteiras: Identificar ativos adequados para venda com base em análises detalhadas.
Apoiar na Precificação: Fornecer insights sobre o comportamento histórico da carteira no contexto brasileiro.
Gerenciar a Transição: Facilitar a comunicação e o fluxo de informações, garantindo conformidade com a legislação local.
Conclusão
A cobrança é uma função essencial no setor financeiro brasileiro, mas precisa ir além da simples recuperação de valores em aberto. Compreender normas como Basileia e IFRS 9, adaptadas ao contexto nacional, permite que prestadores de serviço entreguem mais do que resultados de caixa: eles podem ajudar os credores a melhorar sua saúde financeira, reduzir riscos regulatórios e fortalecer a relação com os clientes.
Além disso, a venda de NPLs surge como uma solução estratégica para lidar com ativos problemáticos, otimizando o balanço e liberando recursos para investimentos mais rentáveis. No Brasil, essa prática ganha relevância especial devido aos altos índices de inadimplência e às particularidades do mercado financeiro.
Prestadores de cobrança que adotam uma abordagem holística e estratégica, utilizando tecnologia, inteligência de mercado e práticas éticas, tornam-se verdadeiros parceiros dos credores. Eles entregam resultados que vão muito além do caixa imediato, garantindo a sustentabilidade e a resiliência do setor financeiro brasileiro.
Referências
- Banco Central do Brasil (BACEN): Regulamentações e circulares disponíveis em [www.bcb.gov.br](https://www.bcb.gov.br).
- Conselho Monetário Nacional (CMN): Resoluções e normativos em [www.cmn.gov.br](https://www.cmn.gov.br).
- Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC): Normas contábeis brasileiras em [www.cpc.org.br](http://www.cpc.org.br).
- Código de Defesa do Consumidor (CDC): Legislação disponível em [www.planalto.gov.br](http://www.planalto.gov.br).
- Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): Informações em [www.gov.br/lgpd](https://www.gov.br/lgpd).
Encontre oportunidades em crédito e cobrança.
ANUNCIE CONOSCO
contato@creditncollection.com
BNPBV - Credit n' Collection © 2024. Todos os direitos reservados.