Revolução nos Pagamentos: Como o Digital Está Transformando o Brasil e a Europa

Digitalização e Meios de Pagamento

1. Adoção Crescente de Pagamentos Digitais: Nos dois contextos, observa-se uma diminuição no uso de dinheiro em espécie. Na zona do euro, apenas 52% das transações em pontos de venda (POS) foram feitas em dinheiro, uma queda significativa em relação a anos anteriores. Em 2016, o dinheiro representava 79% das transações em POS, caindo para 72% em 2019, 59% em 2022 e, finalmente, 52% em 2024. Essa redução reflete a transição acelerada para pagamentos digitais e o aumento da adoção de cartões e dispositivos móveis.
   No Brasil, a redução também é marcante: em 2020, cerca de 40% das transações eram realizadas em dinheiro, enquanto em 2024 esse percentual caiu para menos de 20%. O Pix, por sua vez, já representa 70% das transações digitais, com mais de 26 bilhões de transações registradas em 2023. Além disso, o "Pix Card", desenvolvido por fintechs brasileiras, combina a funcionalidade de pagamentos instantâneos com crédito acessível, oferecendo uma alternativa ao cartão de crédito tradicional. Essa solução atende populações desassistidas (underserved) e promove maior inclusão financeira.

2. Impacto na Organização Financeira: A multiplicidade de meios de pagamento, embora conveniente, pode dificultar a organização das contas pessoais. No Brasil, 78% dos consumidores afirmam usar mais de um meio de pagamento regularmente, e 65% relatam dificuldades para monitorar seus gastos. O acesso ampliado a soluções digitais como o Pix exige maior educação financeira para garantir que os usuários não percam o controle de suas finanças. Por outro lado, na zona do euro, observa-se maior estabilidade nos meios de pagamento utilizados, com os cartões liderando a preferência em 45% das transações em termos de valor.

3. Adaptação ao Contexto Local: No Brasil, o Pix tem sido uma ferramenta inclusiva que atende às necessidades de diferentes grupos sociais. Em 2024, 75% das transações realizadas com Pix foram feitas por usuários com renda de até 2 salários mínimos. Enquanto isso, na Europa, soluções como carteiras digitais e pagamentos por dispositivos móveis ainda estão em fase de adoção, com diferenças significativas entre os países. Na Holanda, por exemplo, 76% das compras online utilizam carteiras digitais, enquanto em outros países, como Alemanha, esse número é inferior a 50%.

Controle do Banco Central e Circulação do Dinheiro

O Banco Central do Brasil desempenha um papel central na regulação dos meios de pagamento e na circulação de dinheiro. A implantação do Pix foi uma iniciativa estratégica que não apenas democratizou o acesso a pagamentos digitais, mas também permitiu maior monitoramento e controle sobre a circulação de recursos. Em 2024, estima-se que o uso de dinheiro em espécie represente menos de 20% do volume total de transações no Brasil, enquanto o Pix já é aceito em mais de 90% dos estabelecimentos comerciais.

Na zona do euro, a digitalização também promoveu mudanças na forma como os bancos centrais administram as opções de pagamento, com foco em garantir a acessibilidade ao dinheiro físico em um cenário de crescente preferência por meios digitais. Iniciativas como o euro digital visam complementar o ecossistema de pagamentos, garantindo maior segurança e inclusão.

Educação Financeira e Inclusão Digital

Para maximizar os benefícios da digitalização, é crucial investir em educação financeira. A disseminação de informações sobre como gerenciar múltiplos meios de pagamento é essencial para evitar endividamento excessivo e garantir que os consumidores aproveitem as vantagens das soluções digitais. No Brasil, campanhas de educação focadas em comunidades de baixa renda já alcançaram 2 milhões de pessoas desde 2021, ajudando a integrar populações marginalizadas ao sistema financeiro formal. Ferramentas como o Pix Card desempenham um papel importante ao oferecer crédito simplificado, ampliando as possibilidades de consumo responsável.

Na Europa, a educação financeira é igualmente importante, especialmente para populações idosas que enfrentam dificuldades em adotar tecnologias digitais. Em 2024, cerca de 10% dos consumidores na zona do euro relataram precisar de assistência para realizar pagamentos digitais, destacando a necessidade de soluções acessíveis e inclusivas.

Perspectivas Futuras

Ambos os estudos apontam para uma maior digitalização nos hábitos de pagamento, mas com desafios distintos. No Brasil, o desafio será ampliar a inclusão financeira, alavancando tecnologias como o Pix para substituir métodos tradicionais de crédito e promover maior controle financeiro entre os indivíduos. Na zona do euro, o foco está em garantir acessibilidade digital a populações idosas e de baixa escolaridade, enquanto avança na implementação de soluções como o euro digital.

A coexistência de vários meios de pagamento — dinheiro, cartões e soluções digitais — continuará sendo essencial para atender às necessidades de consumidores diversos. Esses estudos mostram que o futuro dos pagamentos está profundamente enraizado não apenas em inovações tecnológicas, mas também na capacidade de educar e incluir financeiramente todas as camadas da população, promovendo uma economia mais inclusiva e eficiente.

Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS. O brasileiro e sua relação com o dinheiro – 2024. São Paulo, 2024. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/content/cedulasemoedas/pesquisabrasileirodinheiro/Apresentacao_brasileiro_relacao_dinheiro_2024.pdf. Acesso em: 27 dez. 2024.

EUROPEAN CENTRAL BANK. Study on the payment attitudes of consumers in the euro area (SPACE) – 2024. Frankfurt, 2024. Disponível em: https://www.ecb.europa.eu/stats/ecb_surveys/space/shared/pdf/ecb.space2024~19d46f0f17.en.pdf. Acesso em: 27 dez. 2024.